Entrevista com Expert - Diego de Melo Conti
- May 26, 2021
A Avalara conversou sobre compliance fiscal, automação de atividades burocráticas e como as cidades inteligentes tornam os negócios mais competitivos com Diego de Melo Conti*
O que são cidades inteligentes? Qual a importância deste conceito para a economia mundial?
“As cidades inteligentes podem ser caracterizadas pelo uso generalizado de Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs), que quando integradas, podem resultar no aprimoramento de processos, difusão de conhecimentos e melhoria na tomada de decisões na administração pública.
Em relação à economia, as TICs provêm infraestrutura para atividades de negócios e estimula novas formas de empreendedorismo, especialmente para os setores de serviços e de conhecimento. De tal forma, as cidades inteligentes têm o poder de atrair investimentos e capital intelectual, sendo isso essencial para uma economia dinâmica e competitiva. E isso pode afetar a economia mundial? Sem dúvidas. Isso porque atualmente mais de 55% da população global vive em cidades, o que representa 3,8 bilhões de pessoas vivendo em áreas urbanas no mundo. Sendo assim, as cidades representam uma das principais forças de desenvolvimento econômico do planeta.”
As cidades inteligentes tendem a favorecer a adesão da automação das atividades relacionadas ao compliance fiscal?
“Sem dúvidas. Isso porque as cidades são um ponto focal para a geração de dados e, as soluções de cidades inteligentes, permitem o armazenamento e o processamento destes dados por meio de sistemas de Big Data. Assim sendo, podemos dizer que quanto maior for o volume de dados e informações disponível sobre um determinado território, melhor será o compliance fiscal ou conformidade com as leis e os regulamentos desta área. E isso traria benefícios tanto para as empresas quanto para o governo, pois de um lado facilitaria e desburocratizaria os sistemas de pagamento de impostos para as empresas e, por outro, melhoraria os mecanismos e instrumentos fiscais para os entes governamentais.”
Você acredita que isso será um ponto que contribuirá para diminuição de fraudes e autuações?
“A tecnologia é um importante agente para minimizar riscos de operações, pois possibilita a integração de processos ao mesmo tempo que gera transparência em diferentes operações. Então, podemos dizer que as soluções de cidades inteligentes contribuem de maneira positiva para a diminuição de fraudes fiscais e autuações. Ao mesmo tempo que diminui também os problemas relacionados a corrupção, pois os processos de verificação passam a ser orientados por dados, os quais por meio de algoritmos têm a capacidade de produzir análises e relatórios neutros e em uma velocidade mais rápida se comparado a processos manuais.”
Com a adequação fiscal das empresas e consequente diminuição da sonegação (mesmo que involuntária, por desconhecimento das normas tributárias), é possível imaginar um cenário no qual os cidadãos recebam melhores serviços públicos básicos, como educação, saneamento básico e saúde?
“Aumentar a arrecadação não é uma solução objetiva para o oferecimento de melhores serviços públicos, contudo é variável importante, pois sem dinheiro não é possível construir soluções como saneamento, infraestrutura de saúde ou de educação. É importante pensarmos sistemicamente, ao mesmo tempo que arrecadar mais também gastar melhor, e isso passa também por questões éticas e de formação dos agentes públicos.”
Como as cidades inteligentes tornam os negócios mais competitivos?
“Uma cidade inteligente qualifica o seu território, criando hubs e ecossistemas de empreendedorismo e inovação. Além disso, uma vez que a cidade se torna mais atrativa para investimentos e para atração de mão de obra especializada como mencionado anteriormente, ela cria um ciclo virtuoso de desenvolvimento.
No cenário de sucesso das cidades inteligentes, destaca-se o surgimento de startups disruptivas e inúmeros avanços de tecnologias que propagam a disseminação de novos modelos econômicos, o que nos faz viver um novo momento para a humanidade. Cada vez mais teremos acesso a produtos e serviços por meio de um clique, ao mesmo tempo que tecnologias sociais e de baixo custo surgem para auxiliar na resolução de problemas sociais e ambientais, o que cria um horizonte para um futuro mais sustentável.”
A partir do cenário da automação de atividades fiscais, as empresas poderiam investir mais em inovação e desenvolvimento de soluções inteligentes? Existem programas que incentivam este tipo de investimento no Brasil?
“Hoje as empresas que não investirem em inovação certamente deixarão de existir em 5 ou 10 anos. Isso por conta que uma série de players do mercado estão investindo constantemente em inovação, seja automatizando atividades fiscais ou buscando novos modelos de negócios.
No Brasil existem diferentes órgãos de fomento a inovação, tal como o FINEP, que é uma empresa pública do governo federal de fomento à ciência, tecnologia e inovação que financia projetos em empresas. Do mesmo modo, agências estaduais como a FAPESP têm investido constantemente em projetos ligados a inovação empresarial e de cidades inteligentes.”
As cidades inteligentes deveriam praticar economia circular? Se sim, como as atividades burocráticas funcionariam em um possível cenário?
“A economia circular é uma tendência mundial e caracteriza-se como um sistema econômico não linear, que busca preservar e melhorar o capital natural do planeta, além de otimizar o rendimento de recursos circulando e reutilizando produtos, componentes e materiais. Trata-se de uma importante solução para empresas ou para cidades, pois promove a eficácia dos sistemas econômicos mitigando externalidades negativas. De tal modo, uma cidade inteligente deve pensar na circularidade da sua economia, estruturando processos que permitam nos afastarmos do modelo "pegar, fazer e descartar", ao mesmo tempo que promovem novos negócios a partir da economia circular. Em relação as atividades burocráticas, posso dizer que as TICs têm um papel fundamental para gerar inteligência em processos logísticos por meio de dados, criando um sistema econômico regenerativo no qual a entrada de recursos e a saída de resíduos, emissões e energia são minimizados pela ideia de circuito econômico fechado, preservando e reutilizando recursos.”
*Diego de Melo Conti é pós-doutor em Análise Ambiental Integrada pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e doutor em Administração pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) com estágio de pesquisa na Leuphana Univertät Lüneburg (Alemanha). Fundador e diretor da Integra Consultoria, é professor do Programa de Pós-Graduação em Sustentabilidade da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Camp). Atualmente, conduz pesquisas sobre cidades sustentáveis e inteligentes, economia circular, meio ambiente urbano, governança colaborativa e outros estudos interdisciplinares. Além disso, atua em diversos projetos de organizações nacionais e internacionais na área de políticas públicas.